segunda-feira, 29 de maio de 2017

Da série: Crônicas que eu queria ter escrito...

"O calote do século"
Antes que a gente se esqueça, Joesley Batista, da JBS, que já foi um dos “campeões nacionais” do BNDES, é agora campeão internacional do calote, um calote não numa pessoa, numa empresa ou num banco, mas num país inteiro. Um país chamado Brasil, onde não sobra ninguém para contar uma história decente e abrir horizontes.
Enquanto amealhava R$ 9 bilhões do BNDES, mais uns R$ 3 bilhões da CEF, mais sabe-se lá quanto de outros bancos públicos nos anos beneficentes de Lula, Joesley saiu comprando governos, partidos e parlamentares. Quando a coisa ficou feia, explodiu o governo Temer, a recuperação da economia e a aprovação das reformas, fez um acordo de pai para filho homologado pelo STF e foi viver a vida no coração de Nova York.
O BNDES, banco de fomento do desenvolvimento nacional, foi usado para fomento de empregos, fábricas e crescimento nos Estados Unidos, onde Joesley e o irmão, Wesley, usaram o rico e suado dinheirinho dos brasileiros para comprar tudo o que viam pela frente. Detalhe sórdido: os frigoríficos que adquiriram lá competem com os exportadores brasileiros de carne. Uma concorrência para lá de desleal.
Eles se negam a pagar os R$ 11 bilhões do acordo de leniência com a PGR, até porque o dinheiro público camarada do Brasil foi usado para sediar 70% dos negócios nos EUA, 10% em dezenas de outros países e só 20% no Brasil. Se esses procuradores encherem muito a paciência, eles jogam esses 20% pra lá, fecham as portas e esquecem a republiqueta de bananas.
Além de sua linda mulher (como nos clássicos sobre gângsteres), Joesley levou para a grande potência seu avião Gulfstream G650, de 20 lugares e US$ 65 milhões. Também despachou num navio para Miami seu iate do estaleiro Azimut, de três andares, 25 lugares e US$ 10 milhões. Quando enjoar de Nova York, vai passar uns tempos nos mares da Flórida.
Enquanto arrumava as malas, Joesley aplicou US$ 1 bilhão no mercado de câmbio, fez megaoperações nas Bolsas e ficou aguardando calmamente o Brasil implodir no dia seguinte, para colher novos milhões de dólares. E deixou para trás sua vidinha de açougueiro no interior de Goiás, uma sociedade pasma e um monte de interrogações.
Por que, raios, Lula e o BNDES jorraram tantos bilhões numa única empresa? Joesley podia usar o dinheiro com juros camaradas e comprar aviões e iates para uso pessoal? Os recursos não teriam de gerar desenvolvimento e emprego para os brasileiros? E, se o seu amigão (como dos Odebrecht) era Lula, a JBS virou uma potência planetária na era Lula e se ele diz que despejou US$ 150 milhões para Lula e Dilma Rousseff no exterior, por que Joesley, em vez de gravar Lula, foi direto gravar Temer?
Mais: como um biliardário, que adora brinquedos caros e sofisticados, partiu para uma empreitada de tal audácia com um gravadorzinho de camelô? Como dar andamento e virar o País de ponta-cabeça sem uma perícia elementar na gravação? Enfim, por que abrir monocraticamente um processo contra o presidente da República? E, enquanto Marcelo Odebrecht conclui seu segundo ano na cadeia, já condenado a mais de 10 anos, os Batista estão livres da prisão, sem tornozeleira e sem restrição para sair do País.
Nada disso, claro, significa livrar Aécio ou Temer, que tem muchas cositas más a explicar, como R$ 1 milhão na casa do coronel amigo, R$ 500 mil da mala do assessor Rocha Loures, um terceiro andar do Planalto onde assessores só produziam escândalos.
A sociedade, porém, reage mal ao final feliz dos Batista. A não ser que não seja final ainda, pois a homologação do STF é uma validação formal, mas cabe ao juiz, na sentença, fixar os benefícios da delação. Em geral, o juiz segue os termos do acordo original, mas não obrigatoriamente, e pode haver, sim, fixação de penas. Oremos, pois!
(Eliane Cantanhêde)

domingo, 14 de maio de 2017

Meus comentários sobre o interrogatório de Lula de 10/05/2017


- Quanto ao que comentou Reinaldo Azevedo:
"Impróprios são esses comentários de Reinaldo. 
O Juiz da causa é a pessoa que tem que formar opinião e não o público.
Tal juiz (e somente ele) tem todo o conjunto probatório à sua disposição e, para emitir julgamento, necessita de todos os dados que puder adquirir; o réu deve satisfazer as necessidades de conhecer do juiz, ou seja, o réu deve ESCLARECER as dúvidas do juiz que o interroga ou manter-se silente.
Pertinente ou não é ele, o juiz, é quem sobre isso decide, pois a dúvida da indagação no interrogatório não é nem da defesa nem da acusação, mas exclusivamente do julgador.
Quando o juiz indefere perguntas da defesa ou da acusação em um depoimento (que não é o caso), o faz porque assim ELE o julga.
Finalmente, não se tratou de depoimento, mas de interrogatório previsto em lei. Interrogatório é ato do JUIZ, no qual não reperguntam a defesa nem a acusação.
Parece que Reinaldo tem tesão para ser versado em Direito. Até que leva jeito. Mas, por enquanto, comenta sobre o que não conhece (ou pior, ACHA que conhece)."

- Ainda sobre as bobagens de Reinaldo Azevedo:
"O Reinaldo Azevedo está me lembrando aquele cara que falava um monte de bobagens sobre esportes, um tal de Cajurú (um cara que não considerava automobilismo ou box como esportes e outras sandices) e que tinha um defeito comum a ele, Reinaldo: o de se considerar o arauto da razão e sabedoria. Defeito pior do que não saber é o de achar que sabe! É bem a cara deles dois. Bem... O Cajurú já foi para a vala dos esquecidos/desacreditados/f***** e o Reinaldo, se não se conscientizar, pode ser que vá pelo o mesmo caminho ao mesmo destino."

- Quanto ao número de desempregados citados por Lula, que excede em duas vezes a população brasileira:
"Independente dos méritos e objetivos de um interrogatório... A capacidade de tentar enrolar de Lula se compara à sua ambição e à sua estupidez aritmética (mas é nela que ele escorrega).
Como é que um país de 207 milhões tem 600 milhões de desempregados?
Ele já lançou mão disso antes. 
É um padrão. 
Vejam vocês e tirem suas conclusões: (video do youtube) "

- Quanto a se enganar quanto às tentativas de discurso político no interrogatório:
"Foi só um interrogatório de um réu. Faço isso todos os dias, com uma diferença: o juiz que inquiriu Lula é muito delicado. É até delicado demais. Tanto que foi necessário o Prof. René Ariel Dotti intervir para lembrar que estavam todos diante de uma autoridade constituída no exercício de suas funções e que merece respeito. Ele mesmo, o juiz, não estava usando nem 1/10 do poder que lhe é conferido e que geralmente eu enfrento no meu dia-a-dia.
Como o próprio termo diz, tratava-se de um interrogatório, previsto em lei.
Seu objetivo é saciar as interrogações/dúvidas do juiz da causa para que este forme um contexto que permitam seu julgamento. E por causa do direito constitucional da não obrigação do réu em fazer prova contra si, num interrogatório a ele é permitido mentir ou se calar sendo que quanto a isso não haverá conseqüências, ao contrário de uma confissão: unica coisa que em um interrogatório gera conseqüências.
Num depoimento, o depoente tem o compromisso de dizer a verdade (sob pena de ser processado) e as partes podem participar, fazendo reperguntas e policiando, pela ordem e pedindo a palavra, a pertinência das questões.
Não foi o caso.

A oitiva de Lula, não foi um depoimento: foi um interrogatório comum a todos os réus nessa fase processual.

Nele é vedada à defesa e à acusação reperguntarem ou interferirem sobre a pertinência da interrogação como se faz em um depoimento (em que o depoente tem a obrigação de dizer a verdade). As indagações, no interrogatório, interessam única e exclusivamente a quem irá julgar a causa e podem ser respondidas com o silêncio.
É o momento de esclarecimentos entre julgador e réu, com a oportunidade inclusive de desabafos (inclusive os mendazes) deste último. 

A propósito do silêncio (que não tem conseqüências ao contrário da confissão), ela e é muito (ou extremamente) recomendável, diante do perigo de confissão involuntária, como de fato ocorreu quando Lula, no final da inquirição sobre o apartamento, distraidamente confessou com todas as letras "Não sei se o senhor reparou, MAS O APARTAMENTO FOI COMPRADO EM NOME DE DONA MARISA"... Essas dezesseis palavras a ele custarão muito caro...

Finalmente, há que ressaltar que esse singelo desfecho é o principal escopo do interrogatório que, neste caso concreto durou horas."

Esclarecendo sobre o que é um interrogatório:
"Vocês sabem o que é um interrogatório de um réu?
Pois bem: num interrogatório o réu pode dizer o que quiser, ou mentir o quanto quiser e se defender verbalmente o quanto quiser, sem sair do escopo do interrogatório. Na verdade, num interrogatório, SOMENTE UMA COISA tem conseqüências: a confissão.
Em outras palavras, no interrogatório o Réu só não pode confessar. Confessou, acabou.
E, no que diz respeito ao apartamento, justamente isso o que houve: confissão.
Lula afirmou com todas as letras: 
"Não sei se o senhor percebeu, mas o apartamento FOI COMPRADO EM NOME DE DONA MARISA".
Pronto.
Todas aquelas outras perguntas levaram a esse desfecho singelo, mas JURIDICAMENTE PODEROSO.
Moro, com seu jeito manso, sabendo disso, passou rapidamente para outro tópico."

Confissão de Lula, que disse com todas as letras que o apartamento foi comprado em nome de Dona Marisa:
Trecho da confissão de lula quanto ao casal ter comprado o apartamento: (video do youtube)

terça-feira, 9 de maio de 2017

Cheguei à conclusão de que o islam não é, definitivamente, uma religião de paz, tampouco tolerante (tanto com outras religiões quanto ao ateísmo).

Pelo contrário, incita e estimula o ódio, o genocídio, o engodo (além de pedofilia e poligamia).
Leiam estes trechos do Quran e tirem suas próprias conclusões:
"Sabei que aqueles que contrariam Alá e seu mensageiro¹ serão EXTERMINADOS, como o foram os seus antepassados; por isso Nós lhes enviamos lúcidos versículos e, aqueles que os negarem, sofrerão um afrontoso castigo." Alcorão, Surata 58,5
"Ó fiéis, COMBATEI os vossos vizinhos incrédulos para que sintam severidade em vós; e sabei que Alá está com os tementes." Alcorão, Surata 9,123
"Mas quanto os meses sagrados houverem transcorrido, MATAI os idólatras, onde quer que os acheis; CAPTURAI-OS, ACOSSAI-OS e espreitai-os; porém, caso se arrependam, observem a oração e paguem o zakat, abri-lhes o caminho. Sabei que Alá é Indulgente, Misericordiosíssimo." Alcorão, Surata 9,5
"Ó fiéis, NÃO TOMEIS POR AMIGOS os JUDEUS nem os CRISTÃOS; que sejam amigos entre si. Porém, quem dentre vós os tomar por amigos, certamente será um deles; e Alá não encaminha os iníquos." Alcorão, Surata 5,51
"MATAI-OS onde quer se os encontreis e expulsai-os de onde vos expulsaram, porque a perseguição é mais grave do que o homicídio. Não os combatais nas cercanias da Mesquita Sagrada, a menos que vos ataquem. Mas, se ali vos combaterem, MATAI-OS. Tal será o castigo dos incrédulos. Alcorão, Surata 2,191
"E COMBATEI-OS até terminar a perseguição e prevalecer a religião² de Alá. Porém, se desistirem, não haverá mais hostilidades, senão contra os iníquos." Alcorão, Surata 2,193
"Anseiam (os hipócritas) que renegueis, como renegaram eles, para que sejais todos iguais. Não tomeis a nenhum deles por confidente, até que tenham migrado pela causa de Alá. Porém, se se rebelarem, capturai-os então, MATAI-OS, onde quer que os acheis, e não tomeis a nenhum deles por confidente nem por socorredor." Alcorão, Surata 9,89
"COMBATEI aqueles que não crêem em Alá e no Dia do Juízo Final, nem abstêm do que Alá e seu mensageiro¹ proibiram, e nem professam a verdadeira religião daqueles que receberam o Livro³, até que, submissos, paguem o Jizya." Alcorão, Surata 9,29
"O castigo, para aqueles que lutam contra Alá e contra o seu mensageiro e semeiam a corrupção na terra, é que SEJAM MORTOS, ou CRUCIFICADOS, ou lhes seja DECEPADA a mão e o pé opostos, ou banidos. Tal será, para eles, um aviltamento nesse mundo e, no outro, sofrerão um severo castigo."
Alcorão, Surata 5,33
"E quem quer que almeje (impingir) outra religião, que não seja o Islam, (aquela) jamais será aceita e, no outro mundo, essa pessoa contar-se-á entre os desventurados."Alcorão, Surata 3,85
O pior é que distorce dão pitaco nas crenças judaico-cristãs, tentando inclusive confundir Javé (YHWH, Deus de Abraão, Isaac, Jacó e Israel) com Allah (Baal, Deus semita da Babilônia antiga e da tribo de Muhammad, cujo símbolo era e continua a ser a meia-lua). Definitivamente NÃO SÃO!
"Ó adeptos do Livro (Torah), não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um mensageiro de Deus e Seu Verbo, com o qual Ele agraciou Maria por intermédio do Seu Espírito. Crede, pois, em Deus e em Seus mensageiros e digais: Trindade!Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno. Glorificado seja! Longe está a hipótese de ter tido um filho. A Ele pertence tudo quanto há nos céus e na terra, e Deus é mais do que suficiente Guardião." Alcorão, Surata 4,171

Dizer o contrário é negar o que está escrito pelo profeta.

Alguns diriam: "Ah, mais a grande maioria dos muçulmanos é de paz..."
A resposta é simples: Ser a pessoa de paz, não significa que sua religião prega a paz. Tal pessoa é pacífica, ou não pratica pedofilia, ou não pratica poligamia, etc., por conta de sua índole, não por conta do que seu profeta instrui e ordena.
Há ainda os que fingem tolerância (e a exigem), para que possam professar sua fé sem ser molestados, (mas enquanto são hipossuficientes). Esta é mais uma das práticas induzidas pelo Quran, em suas suratas 3:28 e 16:106: Tu deves mentir para fortalecer o Islã.

Ainda há quem diga: "Ah, mas também há extremistas entre os cristãos"... 
A resposta também não requer maiores esforços e tem relação com a primeira e pelos motivos inversos: O cristão belicoso assim o é por conta de sua índole pessoal, porque a beligerância e a belicosidade colidem com os ensinamentos dos Evangélios.



Degredo ideológico

Adolf Hitler baseou seu Nacional Socialismo no Socialismo de Marx, embora o tenha modificado sobremaneira.

No entanto, é certo que os Internacional Socialistas viam e reconheciam o Nacional Socialismo como sendo o que de fato era: uma adaptação das teorias de esquerda com a adição do nacionalismo alemão e sentimento antissemita daquele povo, naquela época.

O Partido dos Trabalhadores Nacional Socialista Alemão (Ou Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei - NSDAP) foi financiado por Moscou até o rompimento do Tratado Molotov-Ribbentrop .

Desde então, os autores de esquerda tem se esforçado em afastar diametralmente o Nacional Socialismo das outras vertentes socialistas e, para tanto usaram um artifício para rotulá-lo como de "extrema direita": o nacionalismo.

Em outras palavras, isso significa que o que se quis incutir foi que ainda que a ideologia se identifique em 99% com os ideais da esquerda, mas carreguem em seu bojo o nacionalismo, então essa passa a ser seu oposto.

Nem seria necessário discorrer mais a respeito, de tão flagrante que é esse engodo.
Um verdadeiro estelionato intelectual.

Lembra daquela pessoa que não quer ser visto como colega de outra que, embora sejam iguais, fede.

"Fascista!" O último argumento do esquerdista. Da série "Artigos que eu gostaria de ter escrito".


Pare de chamar os outros de fascistas. Você nem sabe o que essa palavra quer dizer.



Fascismo é provavelmente um dos conceitos mais repetidos e pouco compreendidos da história dos dicionários políticos. Veja você mesmo. Quantas vezes você ouviu essa expressão nos últimos meses? Eu poderia apostar que não seria possível listar nos dedos de uma mão. E isso para não falar da possibilidade que você mesmo tenha sido acusado disso. Eu vivo lendo isso por aqui. Quando não como crítica aos textos que escrevo, como resposta aos comentários dos próprios leitores. Todos devidamente catalogados como fascistas. A questão é: alguém saberia realmente explicar o que exatamente é o fascismo? Ou será que todo mundo repete essa palavra sem ter a mais remota noção do que ela significa?
De fato, parece inegável que o termo alcançou o século atual servindo para basicamente qualquer coisa.
Fulano é fascista porque sai para protestar contra o governo com uma camiseta com as cores do país. Beltrano joga no mesmo time dele porque torce o nariz para as ideias de esquerda. Sicrano também segue esse negócio porque vota num cara que eu não curto.

Esse é o grande problema aqui: pouca gente sabe exatamente o que diz quando usa essa expressão. Fascismo é dos termos mais imprecisos popularizados na política. Segundo o Dictionnaire historique des fascismes et du nazisme “não existe nenhuma definição universalmente aceita do fenômeno fascista, nenhum consenso, por menor que seja, quando à sua abrangência, às suas origens ideológicas ou às modalidades de ação que o caracterizam”. Stanley G. Payne, um dos mais reconhecidos historiadores do fascismo no mundo, foi outro a atestar esse fenômeno. Ele diz que o “fascismo permanece sendo, provavelmente, o mais vago dos termos políticos mais importantes”. E não conta nenhuma novidade. Já em 1946, George Orwell condenava o fascismo a uma palavra “quase inteiramente sem sentido” e que “qualquer inglês aceitaria ‘valentão’ como sinônimo” dela.
Por certo, fascismo acabou se tornando uma espécie de insulto político a qualquer figura opositora aos ideais de esquerda. Assim, de forma vaga, da maneira mais banal possível. Você pode perfeitamente virar um fascista apenas por não corroborar os discursos de um político de um determinado partido mais progressista, daquele coletivo revolucionário da sua universidade ou de algumas das pautas mais caras a essa turma toda. Pra muita gente, ou você abraça toda estética, e os jargões, e a luta de um grupo ideológico muito particular, ou você está condenado a desempenhar para sempre o papel de fascista.
A questão é que isso tudo evidentemente não faz o menor sentido. E ainda assim a ideia é facilmente disseminada. Basta reparar nas manchetes. Nos noticiários ela não cansa de marcar presença. Sergio Moro, por exemplo, é um clássico fascista. E não apenas ele, a Lava Jato é irredutivelmente um braço do fascismoJosé SerraFascistaAlckmin também. Cássio Cunha Lima idem. Aécio NevesFortaleceu a “direita fascista”. O MBL também. Todos fascistas. Mil vezes fascistas.
Ainda que vago, no entanto, mesmo sem um aparato ideológico abrangente ou pensadores influentes, há alguns elementos escancarados a respeito da natureza do fascismo. Todos, e isso faz total sentido, ignorados por aqueles que mais utilizam essa expressão. Abaixo, 4 coisas que você precisa saber antes de sair por aí acusando os outros usando esse nome em vão.

#1. É antiliberal

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Grave bem. Essa é a primeira coisa que você precisa saber antes de sair por aí acusando alguém usando essa expressão: o maior inimigo do fascismo é o liberalismo. Essa era a opinião de Mussolini, o grande líder totalitário italiano.
“O fascismo é definitivamente e absolutamente oposto às doutrinas do liberalismo, tanto na esfera econômica quanto na política.”
Para ele, o liberalismo era uma espécie de “religião desconhecida” que precisava ser combatida. Mussolini era desses que acreditava que o século dezenove havia sido o grande reinado do liberalismo no mundo e que o século vinte seria o “século de fascismo”. Não por acaso, ele resumiu toda doutrina fascista numa regra muito clara, que virou quase um bordão de tão precisa:
“Tudo para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado.”
Reparou? Essa é a essência do tal Estado totalitário: é tudo nele e nada fora dele. Ou seja, o fascismo é a ideia que todas as ações humanas devem satisfações a uma organização central. O Estado deve dirigir uma economia corporativista, controlando cada movimento do mercado, ao mesmo tempo em que impõe claros limites às liberdades individuais. Em resumo, esse é o exato oposto do que defendeu toda literatura liberal ao longo dos últimos trezentos anos. Isso também é muito próximo daquilo que os socialistas instituíram em diferentes regimes ao redor do mundo no último século.
Moeller van den Bruck, o ideólogo nazista que serviu como forte influência para o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, captou o sentimento da juventude alemã antes da ascensão de Hitler. Era genuinamente antiliberal.
“O liberalismo é uma filosofia de vida à qual a juventude alemã volta hoje as costas com nojo, cólera e um desprezo especial, pois não há nada mais exótico, mais repugnante e mais contrário à sua filosofia. A juventude alemã dos nossos dias reconhece no liberalismo o arqui-inimigo.”
Para ele, a ascensão do fascismo nos mais diversos cantos da Europa era facilmente explicada: 
“Todas as forças antiliberais estão se unindo contra tudo que é liberal.”
No artigo “A redescoberta do liberalismo”, o alemão Eduard Heimann, um dos líderes do socialismo religioso alemão, era outro a destacar o ódio dos fascistas pelos liberais:
“Hitler jamais pretendeu representar o verdadeiro liberalismo. O liberalismo tem a honra de ser a doutrina mais odiada por Hitler.”
Passado tanto tempo, é exatamente por isso que soa tão estúpido quando liberais são acusados de fascistas. Na verdade é o contrário. O fascismo é uma espécie de religião do Estado. É a crença que o Estado deve assumir totalmente a responsabilidade por cada aspecto da vida humana em detrimento do individualismo. O Estado deve gerir o nosso bem-estar e cuidar da nossa saúde. E não apenas isso. Deve também impor uma uniformidade de pensamento – leia-se: instaurar uma ditadura do pensamento único, onde as expressões não são livres, construídas a partir da boa vontade de uma liderança política.
Na prática, a construção de uma sociedade fascista é inteiramente calcada pelo antiliberalismo.

#2. É trabalhista

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Poucos regimes foram tão revolucionários na defesa dos direitos trabalhistas quanto o fascismo. Não por acaso, a nossa própria legislação na área, criada no auge do Estado Novo, por Getúlio Vargas, tem como base um documento italiano do final da década de vinte, a Carta del Lavoro, onde o Partido Nacional Fascista definiu os fundamentos das relações de trabalho. Até hoje, aliás, todas essas determinações não apenas permanecem organizando a vida econômica do país em corporações, com sindicatos patronais e trabalhadores tutelados pelo Estado, como são defendidas em grande parte por militantes de esquerda.
E a CLT não foi o único documento a seguir esse princípio. A própria Constituição Federal de 1937 tem no artigo 138 uma tradução idêntica à declaração III da Carta del Lavoro. E o que ela prevê? A unicidade sindical sob tutela do Estado, as contribuições compulsórias e os contratos coletivos de trabalho, mecanismos que de forma intacta sobreviveram à Constituição de 1988.
Foi dessa maneira que o fascismo mudou a cara do trabalhismo no último século – abraçando o sindicalismo revolucionário e dando ao Estado o papel de tutor das relações laborais, fiscalizando patrões, empregados e determinado cada aspecto da vida do trabalho. Quer dizer, nunca houve no fascismo italiano o interesse em abolir completamente a propriedade privada, como definia a utopia soviética. Os fascistas ousavam dominá-la através de corporações intimamente ligadas ao Estado. Em 1935, os sindicatos fascistas tinham mais de 4 milhões de filiados. Nada parecido havia sido testemunhado proporcionalmente em nenhum outro canto do mundo até então. A Itália era um grande feudo sindicalista.
Do outro lado do Atlântico, essa é a base do trabalhismo tupiniquim: uma cópia escrachada do fascismo italiano. Não apenas no que diz respeito à perpetuação de uma cultura sindical (e nunca é demais lembrar que há mais de 15 mil sindicatos no Brasil), como no fato dessas corporações serem tão próximas ao Estado (de abril de 2008 a abril de 2015, o governo federal repassou mais de R$ 1 bilhão para as centrais sindicais).
Boa parte dos nossos sindicalistas, não obstante, com o dedo em riste acusam seus opositores de fascistas. Nada mais contraditório.

#3. É populista

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Há algo inegável a respeito das ideologias: fascistas e populistas de esquerda nasceram como uma espécie de irmãos Karamazov dos dicionários políticos. E não sem motivo.
Em geral, tanto o primeiro grupo quanto o segundo construiu suas plataformas ideológicas no último século a partir do aumento do gasto público, da criação de políticas econômicas equivocadas justificadas para atender as massas, da propagação da ideia que o livre mercado é um mal a ser combatido, da figura centrada num grande líder carismático, do uso das estruturas do Estado para a construção da propaganda oficial, do combate à globalização como proteção à economia nacional, da crença no partido como um instrumento inquestionável de criação de prosperidade e justiça social, da luta contra um inimigo em comum (os norte americanos, o comércio internacional, os judeus), da construção de um discurso que una o grande líder ao “povo” e condene todas as figuras contrárias ao partido como “antipovo”, da perseguição à propriedade privada, da manipulação dos números oficiais, da descrença em escândalos de corrupção do governo.
Isso tudo está em Getúlio, Hitler ou Mussolini. Mas também está em Chávez, Perón e Fidel.
Há evidentes diferenças entre fascistas e populistas de esquerda, certamente. Ainda assim, não é um equívoco apostar que há mais coisas que os aproxima do que os afasta.

#4. É autoritário

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Sabe aquela imagem estereotipada do grande líder totalitário concentrando todo poder possível nas mãos para dar cabo ao seu plano psicopata de destruir completamente o mundo? Sinto dizer, mas longe dos desenhos animados e dos pastelões de Hollywood, ela é falsa. Em geral, a mesma noção altruísta que teoricamente move políticos dos mais diversos credos ideológicos também inspira diferentes líderes totalitários: todas as suas ações políticas são justificadas a partir de uma hipotética luta pela transformação do mundo vigente, do combate às mazelas históricas, da crença que as suas ideias são naturalmente superiores e benéficas ao maior número de pessoas.
E é justamente graças a esse entendimento que seu plano político é infalível na construção de uma sociedade mais justa e estável, e que seus opositores representam uma ameaça ao bem estar geral da população, que líderes totalitários e seus simpatizantes usualmente criam algumas das ditaduras mais perversas que a humanidade já testemunhou – dentre as quais uma muito peculiar, ainda tão em voga nos dias atuais: a do pensamento único.
Via de regra, todos aqueles que buscam construir o paraíso na terra concentrando poder, acabam produzindo catástrofes infernais.
E se tirania atinge seu ápice na instauração da nova identidade política, com muita repressão policial, ela alcança forte poderio também no campo das ideias. Acreditando defender um mundo moralmente superior, fascistas – assim como seus irmãos bastardos, os populistas de esquerda – condenam aquilo que entendem como pensamento dominante (essencialmente capitalista e individualista) para dar lugar a um novo reino da opinião e das condutas pessoais, construídas sobre o mito da juventude como artífice da história, da total dedicação à comunidade, da camaradagem e do espírito guerreiro e revolucionário. Em geral, fascistas e populistas de esquerda não apenas censuram todos aqueles que destoam de suas crenças, tratados literalmente como politicamente incorretos, como ameaçam fisicamente e moralmente seus opositores.
Dessa forma, a liberdade de expressão vira um mero conceito pequeno burguês: a própria palavra é um instrumento do coletivo, da maioria, do “povo”, e deve ser silenciada quando utilizada pelos não alinhados ao pensamento único. Não apenas os veículos de informação que denunciam descasos do partido são condenados ao descrédito – quando não à censura – como pensadores de oposição acabam tratados como arqui-inimigos dos trabalhadores e do bem comum. Sem escapatória, ou você repete o discurso coletivo, ou você morre abraçado ao riso da estupidez.
Assim, a essa altura do texto, é muito provável que muitos daqueles que você está acostumado a ver acusando os outros de fascistas, com expressões autoritárias, dedos em riste e soluções inquestionáveis para todos os problemas do mundo, quase sempre são eles mesmos os mais fervorosos praticantes do fascismo – um fascismo velado, cínico e demagogo, mas não menos autoritário. Escondidos sob o véu desse autoritarismo do bem, pretensiosamente inclusivo e justiceiro, os fascistas envergonhados dos dias atuais, como os do passado, são quase sempre os primeiros a acusar os outros daquilo que eles mesmos fazem, e justificam seus protestos, suas greves, seus boicotes e suas vaias, com toda uma insolência muito peculiar, à incendiária construção de um novo mundo, mais justo.
Isto posto, não nos resta dúvida que o fascismo atravessou o século e deixou de ser uma marca restrita aos líderes totalitários. Por isso, esqueça Hitler, Vargas ou Mussolini. Olhe ao seu redor. O fascismo é um instrumento da modernidade que concentra sua luta na construção de um mundo melhor através de ações estatais muito específicas e irredutíveis que moldam as particularidades humanas sob a égide do politicamente correto e do pensamento único.
Lembre-se disso na próxima vez que sair por aí acusando os outros usando esse nome. Você pode ser o fascista da vez. Você só não sabe disso ainda.